segunda-feira, 22 de junho de 2009

Confissão


Foto: Diógenis Santos

Finalmente, cheguei à conclusão de que se não confessasse, Deus iria expor abertamente o meu pecado. Eu esperava, ao contrário, que Ele mandasse um mensageiro como Natan, o profeta, que tinha a coragem de apontar o dedo ao Rei Davi e dizer: “Tu és o homem!” (2 Samuel 12:7). Quantas chances mais eu teria? Foi então que, em desespero total, despejei tudo sobre Noline, como um caminhão de lixo esvaziando a sua fétida carga.
Eu não tinha idéia do que esperar dela. Talvez eu esperasse que ela fosse forte o suficiente (ou insensível) para dizer:
- Está bem, vamos orar e então procurar alguma ajuda para você.
Noline não fez isso. Ao invés de diminuir-me, desmoronou-se, com soluços incontroláveis e não me deixava aproximar-se dela. Ela dava de ombros a cada tentativa de reconciliação e finalmente precipitou-se para fora de casa. Decidi não segui-la, pensando que ela precisava de algum tempo e espaço para assimilar e digerir tais revelações.
Depois de três horas, sem sinal de Noline, entrei em pânico. As crianças estavam com fome e chorando, querendo a mamãe. Estava ficando escuro.
- Ó Deus, chorei em desespero, por favor, não deixe que ela faça nenhuma besteira.
Eu arrumei as crianças e telefonei para a babá. Decidi ir de carro até a casa de meus pais para ver se ela havia ido lá. Minha próxima súplica foi:
- Ó Senhor, por favor não deixe Noline contar para os meus pais.
Meus pensamentos moviam-se rapidamente entre o medo e a auto-preservação. Era a reação de uma pessoa desesperada e machucada, pega num pecado terrível.
Noline era capaz de fazer qualquer coisa nesse ponto e, da mesma forma como eu não queria que as coisas saíssem do controle, eu tinha que reconhecer que elas já estavam fora de controle. Eu estava assistindo a minha vida desmoronar-se diante de meus próprios olhos.
No caminho da casa de meus pais, parei na igreja. Talvez Noline tivesse se refugiado na Casa do Senhor. Quando desci e caminhei na tranqüilidade silenciosa do templo, ouvi soluços abafados vindos do berçário. Abri a porta devagar e encontrei Noline curvada numa posição fetal, no chão, balançando-se e soluçando descontroladamente.
Meu coração quebrou-se por ela, mas eu estava totalmente sem ação. O que eu poderia fazer para confortá-la? Afinal de contas, eu era o culpado de toda a sua dor e sofrimento. Após um tempo, pedi para ela levantar-se e ir para casa comigo. Ela foi, mas sem olhar ou falar comigo. Aquela foi a noite mais comprida e dolorosa de nosso casamento. Um grande abismo abriu-se entre nós enquanto estávamos deitados nos lados opostos da cama, cada um mergulhado em seu inferno particular de dor e solidão. O estrago esta feito.
No dia seguinte, o único pedido de Noline foi que eu chamasse o presidente de nossa denominação e contasse a ele as circunstâncias de meu adultério. Eu sabia que aquela chamada terminaria com o meu ministério na cidade e, possivelmente, em qualquer outro lugar, mas me controlei, indiferente às conseqüências. Decidi que faria qualquer coisa que os oficiais da igreja me pedisse para fazer. Naquele ponto, eu desejava, desesperadamente, que aquele caso nunca tivesse acontecido e que houvesse alguma forma de punição para os meus erros. Eu queria, com sinceridade, reparar os meus erros e de alguma forma “acalmar” a Deus, Noline e a minha própria consciência culpada. Infelizmente, não havia nada que eu pudesse pensar para desfazer aquele emaranhado de mentiras e traições.
A graça, naquele ponto, parecia impossível de se obter, um dom que eu nem mesmo deveria considerar. A resignação, a exaustão e a derrota eram minhas únicas companhias. Ao invés de correr para Deus, da forma como eu havia pregado para tantas outras pessoas, encontrei-me correndo d’Ele.
A natureza humana é tão estranha. Está sempre tentando encontrar seu caminho até Deus. A força da carne é enraizada no orgulho. Mesmo quando o homem está humilhado, nas maiores profundezas, o orgulho ainda o mantém cativo em suas amarras.
Depois de ter notificado aos líderes da igreja, arrumamos a nossa mudança e planejamos mudar para a cidade onde os pais de Noline viviam. Nada foi dito aos membros locais sobre a verdadeira razão de nossa partida, apenas que havíamos decidido partir. Quando olho de volta àqueles dias percebo que a única forma dos superiores da igreja manejarem a situação, era nos liberando e encontrando um outra pastor para cuidar da igreja, Infelizmente, isso significava que nada seria feito por nós. O mais sério de tudo, para mim, era o fato de que as sementes da impureza sexual continuavam a germinar no meu interior e nem o remorso ou o arrependimento parecia barrar o crescimento insidioso. Mudar para um novo local era apenas replantar a semente em um novo campo.
Eu estava aprendendo sobre o pecado e suas conseqüências através de um árduo caminho.

Capítulo 6 – A confissão e o perdão

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