domingo, 24 de maio de 2009

Capítulo 2 - Um rebelde é salvo


Foto: Diógenis Santos

O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. João 10:10

NEIL:

No final do meu último ano do segundo grau, tive um confronto com um professor que afetaria negativamente o meu futuro. Eu ainda posso ouvir minhas palavras ameaçadoras:
- Se aquela bicha encostar no meu traseiro, vou fazê-lo voar!
A reputação bem conhecida daquele homem de tocar nos meninos onde não devia, não deixava nenhuma dúvida de que ele era um homossexual. A minha retórica agressiva logo foi posta à prova quando o professor tentou tocar-me em uma aula de oficina. Meus colegas estavam observando a minha reação. Na hora, tudo aconteceu tão rápido que eu não tive tempo de pensar. Meu instinto prevaleceu e, cheio de ódio e revolta, eu peguei uma ripa e atirei em sua cabeça.
Embora, de alguma forma a ripa tivesse desviado da direção do rosto de meu abusador, o incidente pôs um fim em minha educação básica. Fui levado ao diretor e disciplinado severamente, sem ter a chance de justificar minhas atitudes; assim não voltei mais à escola. Para meus pais eu era apenas um dos rebeldes dos aos 60 e não me forçaram a voltar para a escola e acabar aquele ano escolar. A atitude deles era do tipo “Você preparou a cama, agora deite e role!”
As coisas pioraram a partir de então.

Um chamado próximo

- Olhe! Nick gritou.
Eu gritei em resposta:
- Não consigo parar essa porcaria!
Alguns segundos depois Nick pulou da moto e rolou aterro abaixo. Eu só tive tempo de vê-lo voando sobre as pedras antes de olhar para a frente em direção à estrada interestadual.
O trânsito estava pesado e o breque de minha moto não estava funcionando como deveria.
Eu estava indo em direção contrária a uma carroceria que estava a 110 km de forma violenta, rápida e impetuosa. Virei a moto de frente para a carroceria e, de alguma forma consegui deixá-la passar na frente de mina roda dianteira com apenas alguns centímetros de espaço, antes que eu entrasse lateralmente no trânsito. Fiquei entre as duas pistas e então comecei a manobrar a moto na mediana em direção às próximas pistas. Dando uma olhada no tráfico concluí que poderia cruzar direto par ao outro lado da estrada. Consegui! Eu pensei. Então, um barulho! Parecia que o tempo havia parado.
Bateram em mim, pensei, enquanto voava pelo ar. Por que não sinto nenhuma dor? Com uma pancada, cheguei ao chão. Podia ouvir a minha moto sendo arrastada na estrada com o som dos metais arranhando o asfalto. O guincho agudo dos pneus derretendo acrescentou-se ao barulho daquele caos. Então ouvi apenas o silêncio, um silêncio ensurdecedor que parecia durar uma eternidade.
Gradativamente, o zumbido do tráfico em pleno rush veio chegando até a mim, devagar, trazendo tudo de volta ao normal. Com grande esforço levantei-me, comum pé no acostamento e o outro no asfalto. Estava sangrando profusamente devido aos cortes em três lugares diferentes da face e meu olho esquerdo estava cheio de sangue, tampando minha visão. Minha mão esquerda e o pulso estavam balançando soltos.
Tentei mexer a mão, mas ela não se movia. O osso do meu polegar esquerdo ressaltava sob a pele na palma de minha mão. Havia um corte sangrando no lado do meu corpo e minha perna esquerda estava deslocada e ensopada de sangue. De forma estranha, eu não sentia nada. Mais tarde, quando os efeitos do LSD finalmente se acabaram no hospital, a dor tornou-se terrível.
As drogas e a maconha tinham se tornado a parte mais importante do meu dia-a-dia nos dois últimos anos após meu abandono escolar. Meu irmão mais velho havia me convidado para ir à África do Sul. Lá ele havia me introduzido a um estilo de vida que deveria ser de um “estado de paz” no mundo caótico criado por nossos pais, a quem culpávamos.
Meu amigo Nick e eu havíamos “viajado” devido ao LSD no momento do acidente. Estávamos convencidos de que poderíamos voar e assim Nick tinha decidido equilibrar-se ao colocar-se de pé no banco da moto. Eu estava de pé, apoiado nos pedais enquanto deixava o guidão solto, os braços levantados e abertos no vento para “ajudar-nos a voar melhor”. Estávamos absolutamente convencidos de que sairíamos do solo a qualquer momento – isto é, até Nick perceber, com horror, que a rodovia movimentada interestadual estava a poucos metros de nossa frente. Estávamos correndo cerca de cinqüenta quilômetros por hora, quando alcançamos o topo da colina, mas como estávamos tão “altos” com a droga, parecia que apenas nos arrastávamos. Parecia que poderíamos descer e caminhar, se quiséssemos.
Uma Mercedes Benz estava escondida atrás de um caminhão bem no momento em que olhei para trás para ver o que vinha vindo. Em alta velocidade, o carro luxuoso havia ultrapassado a faixa interrompida no momento em que eu liberava as primeiras duas pistas. Foi este carro que bateu em mim; toda a força do impacto alcançou a parte traseira da moto. Com a diferença de uma fração de segundo, o impacto total teria sido diretamente em mim e teria sido impossível sobreviver. Deus interveio de forma clara em meu favor.
Passei os próximos dias, que pareciam durar uma eternidade, agonizando no hospital e eu me lembraria deles por muito tempo. Quando finalmente me recuperei, tinha dezoito pontos em minha face, e o lado do corpo e o braço esquerdo estavam engessados. Eu não estivera com boa saúde, mesmo antes do acidente. O uso contínuo de barbitúricos tinha baixado o meu peso para menos de 60kg e minha estrutura de 1,83m não passava de pele e osso.
Eu imaginara que a vida de um hippie seria “legal”, mas aprendera, pelo caminho mais difícil, que viver “numa boa” tinha o seu lado negro. Minha vida havia se deteriorado ao ponto de eu ter que dormir nos telhados de complexos residenciais ou me encolher atrás das escadas dos prédios no centro da cidade para conseguir um pouco do descanso tão necessário. Eu estava abatido pelos acontecimentos, e em uma solidão desesperadora apenas três dias antes, eu havia clamado dizendo:
- Ó Deus, venha e tire a minha vida! Eu pouco imaginava quão sério Deus levaria o meu pedido.
Olhando para trás agora, não tenho dúvidas de que o Senhor usou todas as circunstâncias difíceis, incluindo os tetos frios e as horas dolorosas confinado numa cama de hospital, para me trazer de volta a Ele. Encontrava-me, então, embarcando em um trem de volta para casa.

A seguir: O vinho natural do amor jovem

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