quarta-feira, 27 de maio de 2009

Capítulo 4 - Nuvens de tempestade se aglomeram


Foto: Diógenis Santos

Saindo tu, ó Senhor, de Seir marchando desde o campo de Edom, a terra estremeceu; os céus gotejaram, sim, até as nuvens gotejaram águas. Os montes vacilaram diante do Senhor, lá o Sinai diante do Senhor Deus de Israel. Juízes 5:4-5

NEIL:

Treze de janeiro de 1973: dia de nosso casamento! Estávamos alegres, entusiasmados e definitivamente aliviados por estarmos livres da pressão intensa de viver no pecado. Nosso sonho de infância tinha se tornado uma realidade. Finalmente éramos marido e mulher! Agora poderíamos beber livre e profundamente o “vinho”, ou seja, o nosso amor cheio de paixão um pelo outro, sem culpa. Nossa intoxicação de um com o outro parecia ser sem fim e nossas vidas e o casamento pareciam ser maravilhosos. Passamos a nossa lua-de-mel em um chalezinho a uns vinte e quatro quilômetros da cidade. Durante quatro dias inesquecíveis divertimo-nos nadando, comendo e fazendo amor. Passamos os últimos seis dias de meus dez de folga do serviço militar e começamos a fazer planos para o futuro. A vida não era tão fácil como havíamos imaginado e não tivemos que esperar muito tempo para a nossa primeira discórdia.

Os primeiros confrontos


Foto: Diógenis Santos

- O quê? Exclamou Noline.
- Você quer que nos levantemos e nos aprontemos em nosso primeiro domingo para irmos à igreja, um dia depois de nosso casamento?
Os meus argumentos eram perfeitamente lógicos para mim. Da mesma forma como eu havia vivido para o mundo, agora eu queria viver para Deus – mesmo que isso significasse “provar a mim mesmo a minha fé” à custa dos sentimentos de minha esposa, um dia depois de nosso casamento. Um pouco de minha insistência pode ter sido motivada também pelo desejo de receber a aprovação das pessoas ao meu redor.
Estávamos começando uma nova vida juntos, um com o outro e com o Senhor e queríamos começá-la direito. Assim insisti, saí e comecei a puxar minha esposa a reboque, correndo para chegar à igreja na hora do culto matutino. Este incidente poderia ter sido um motivo para alarme. Eu realmente teria que aprender a viver o meu cristianismo sem ser religioso.
Nos anos que se seguiram, crei9o que algumas vezes criei uma camuflagem religiosa para impedir que as outras pessoas vissem o que realmente acontecia dentro de meu coração. Sentia que precisava parecer bom para os outros e tinha medo de que, se as pessoas conhecessem o meu verdadeiro eu, elas não me aceitariam. Parte disso devia às sementes de rejeição plantadas em minha infância.

As sementes de rejeição e os ramos resultantes

Meus pais foram excelentes provedores para nós, mesmo nos tempos difíceis. Enquanto crianças, nunca sentimos o peso dos tempos difíceis porque eles se submeteram ao sacrifício. No entanto, quando significava envolverem-se em minha vida, eles simplesmente não estavam por perto, o que tornou-se em uma semente que germinou mais tarde em minha vida.
Meus pais nunca me rejeitaram abertamente, pelo contrário; mas nunca deram o carinho paternal ou maternal de que eu precisava. Ambos trabalhavam das 8 às 5 horas e raramente estavam em casa. Consequentemente, cresci sem limites, indo e voltando ao bel-prazer.
Havia outros aspectos de rejeição que eu sentia. Lembro-me exatamente de meus sentimentos quando, na idade dos seis anos e no primeiro grau muitos de meus colegas ganhavam um beijo do pai ou da mãe quando eram deixados na escola. Este tipo de coisa nunca era feito em casa. Quase não havia nenhuma demonstração de carinho mesmo. O fato de ver o afeto que outras crianças recebiam tocava-me profundamente e, certo dia, decidi que ganharia um beijo de minha mãe antes de sair para a escola no dia seguinte.
Já que eu ia a pé para a escola, meu beijo teria que ser recebido em casa. Assim, na manhã seguinte, após o café levantei-me da mesa, dei a volta até o lugar onde minha mãe estava sentada e dei um beijo de despedida. Este simples ato tornou-me a razão de escárnio para a família. Todos na família – meu irmão mais velho, minhas duas irmãs e até mesmo meus pais – riram e fizeram gozações por eu “beijar a mamãe”. Mesmo tão novo, fiz um voto de jamais me embaraçar daquele jeito novamente e é claro que jamais me esqueci do acontecimento.
A rejeição é como a raiz principal que vai bem fundo e afeta quase toda a área de nossa vida. O apóstolo Paulo fala sobre ela: E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o serão (Rom. 11:16). Anos mais tarde, percebendo que o oposto também era verdade, comecei a identificar os vários ramos que estavam saindo desta raiz principal.
Ramo 1: Justificação compulsiva e racionalização. Eu me justificava constantemente – estando certo ou errado – porque temia ser rejeitado se tomassem conhecimento de que eu tinha feito algo errado.
Ramo 2: Falha em dizer “Não!” nas áreas de compromisso moral. Uma vez que eu ganhava a consideração de alguém, parecia que eu jamais poderia dizer não – mesmo quando o relacionamento caminhava sobre um gelo fino. Eu nunca seguia a saída que o Senhor providenciava, por ter medo de machucar os sentimentos da outra pessoa ou de ser rejeitado.
Ramo 3: Eu tinha “coceira nos pés”. Eu queria sempre mudar-me para pastos melhores e mais verdes. Uma vez estabelecido em uma nova área, minha tendência era mudar-me. Enquanto eu ainda era novo entre as pessoas, eu podia conseguir grande aceitação delas; mas no meu íntimo eu temia ficar muito tempo em um só lugar e perceber que as boas vindas se esgotariam e eu seria rejeitado. Eu evitava encarar o meu medo arrumando a mudança antes que alguém tivesse a chance de rejeitar-me.
Ramos 4: Eu era um escravo do desempenho. Gráficos eram dependurados em minhas paredes para que eu pudesse acompanhar tudo o que estivesse acontecendo no ministério. Eu era um escravo daqueles gráficos porque o desempenho governava a minha vida. A falta de desempenho ou o mau desempenho era o combustível para a rejeição, assim sentia que simplesmente tinha que ganhar a aceitação dos supervisores. Sentia que se trabalhasse bastante e desempenhasse de forma excepcional, meus superiores ficariam agradecidos e eu poderia, de alguma forma, alcançar um lugar de respeito entre eles.
Estas atitudes não eram saudáveis e, eventualmente, me levariam à qeuda. Estas sementes plantadas tão profundamente em minha vida um dia brotariam para desafiar e quase destruir o nosso casamento. Somente depois dessa raiz ser exterminada pela “espada de dois gumes” da Palavra de Deus é que poderíamos estar libertos para crescermos juntos sem medo.

Novas regras

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