terça-feira, 26 de maio de 2009

Capítulo 3 – Vivendo na areia, antes da tempestade

Praia de Bitupitá-CE

Foto: Diógenis Santos

...porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração... E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. Mat. 6:21, 7:26-27

NOLINE:

Quando Neil entregou o seu coração a Jesus, pensei que meus pais finalmente o aceitariam e dariam a sua bênção para nosso relacionamento. Entretanto, eu não estava preparada para a reação deles. Eles ainda estavam céticos com relação a Neil; e, a cada dia que se passava, meu medo de perder o homem que amava para outra mulher crescia. Aumentou ainda mais quando Neil foi recrutado pelo exército para lutar na Guerra Civil da Rodésia. O medo dele morrer na batalha, sem nunca termos consumado o nosso amor, era, às vezes, maior do que eu podia agüentar. Eu simplesmente não podia aceitar a possibilidade de viver sem Neil.
Eu me apavorava com o dia em que ele teria que sair para o treinamento básico e, quando aquele dia finalmente chegou, gastamos o dia todo e a noite juntos, conversando e olhando dentro dos olhos, imaginando se nos veríamos novamente. Como poderíamos nos despedir? Parecia impossível.
Foi um dia amargo de partir o coração, de um medo paralisador e de um amor incontrolável; com nossas emoções alteradas, fizemos o que eu jamais pretendera fazer antes do casamento. Nós nos entregamos, de forma incontrolada, um ao outro, numa intimidade sexual.
Nunca culpei Neil pelo que aconteceu naquela noite, pois eu o queria tanto quanto ele me queria. Foi uma decisão mútua e errada que teria conseqüências duradouras.
Eu sempre pretendera e desejara esperar até a nossa noite de núpcias, mas naquele momento tudo que eu queria era ter Neil perto de mim. Minhas ações, naquela noite, não se justificavam “só porque eu o amava” e minha ligação emocional não legitimava a nossa decisão de dormirmos juntos. O que fizemos foi errado e levei muitos anos para perdoar-me em Cristo e mudar a auto-imagem de alguém que falhara. Só muitos anos mais tarde fui finalmente liberta do espírito de medo que começou a influenciar minha vida naquela primeira noite e que continuou por muitos anos depois dela.
NEIL:
Fuga das impurezas da juventude

Não é de se surpreender que a Palavra de Deus nos previne para “fugir da imoralidade sexual” (1 Cor. 6:18). O impulso sexual humano é uma paixão dada por Deus. Jamais devemos lutar contra ele. Devemos fugir dele até nos casarmos. É apenas no contexto do casamento que uma relação sexual pode ser nutrida e cultivada de forma saudável.
Noline e eu nos amávamos, mas a impureza e a impaciência controlaram os nossos corações e emoções acordando o gigante da paixão sexual que estava dormindo.
Sempre me culpei pelo que aconteceu naquela noite. Noline sempre se mantivera pura. Pensando agora, o período em que ficamos longe um do outro a pressionara a ter uma intimidade e fora mais fácil para ela ceder naquela noite do que resistir.
As coisas nunca foram as mesmas depois daquela noite. Dormimos juntos naquela noite e, de manhã, Noline levou-me ao quartel para alistar-me par ao treinamento básico;mas devido às nossas ações, havíamos nos perdido numa paixão que nenhum de nós fora capaz de controlar.
Continuamos a nos encontrar todas as vezes que eu conseguia um passe para fim-de-semana e não havia jeito de retroceder e apenas pegarmos na mão. Parecia impossível voltar. Amávamo-nos tão apaixonadamente que, apesar de nossas melhores intenções não nos controlávamos e acabávamos nos entregando um ao outro em cada visita.
Quando Noline me disse pelo telefone que estava grávida, fiquei exultante com a idéia de ser pai; mas, mais do que qualquer outra coisa, eu fiquei aliviado pois, finalmente, teríamos uma desculpa para nos casarmos. A notícia não foi tão bem aceita por nossos pais, especialmente pelos dela. Ficaram grandemente desapontados com sua filha. Daquele dia em diante, no entanto, sentíamo-nos justificados para dormir juntos. Afinal de contas, dizíamos para nós mesmos: - Deus já nos vê casados, mesmo que nossos pais não nos vejam.

Quase um ano após o dia em que eu entregara a minha vida a Cristo, entramos em um aliança de casamento, o mais sagrado de todos os relacionamentos humanos, com um novo membro da família já a caminho. Seríamos bem-sucedidos como marido e mulher e como pais responsáveis? O tempo diria.
Eu pensava que estava pronto para estar casado e pronto para ser pai, mas olhando para trás tenho certeza de que não estava pronto para nenhuma das responsabilidades. Anos mais tarde iria me perguntar constantemente qual tinha sido a causa da minha falha, pois eu havia, de fato, falhado com Deus, falhado com minha esposa, falhado com meus filhos, falhado com minha família e falhado com minha congregação.
Muitas coisas se colocaram diante de mim com respeito aos meus primeiros anos de vida e fizeram-me crer que, se eu tivesse recebido, bem cedo, uma educação, uma disciplina, uma instrução própria nos caminhos de Deus, talvez eu pudesse ter evitado minha queda. De qualquer modo, é válido mencioná-las.
Quando mais tarde, analisando minha vida, identifiquei rebelião, egoísmo, desejo de aprovação e uma necessidade propulsora de ser bem-sucedido, percebi que todos os fatores contribuíram, de uma forma ou de outra, para que eu pecasse.
A falta de disciplina foi uma das maiores áreas de falha em minha vida. Eu não apenas necessitava de auto-disciplina, mas ficava ressentido quando alguém tentava disciplinar-me. Arrependia-me desta falha repetidas vezes. De alguma forma, sentia que era esta falta de disciplina e rancor para com as autoridades que me permitiram eventualmente abrir a porta para algo que Deus despreza em um homem – a rebelião.
Quando criança, nunca conheci a segurança e a tranqüilidade advindas das restrições de uma disciplina bíblica dos pais. Gritos e berros pareciam ser a forma preferida de “disciplina” em nossa casa. Quando fiz quinze anos, eu já sabia a resposta quando pedia para usar o carro de minha mãe para ir a uma festa.
-Não!
Minha reação era sair de fininho de casa, empurrar o carro para baixo da rampa em direção à rua, fazer “ligação direta” e rodar até meus amigos.
Meu pai me pegou nesta última fase uma noite,quando eu trazia o carro em ponto morto pela rua. Ele tinha me escutado antes e estava esperando por mim. Seu método de lidar com a situação, como era de se esperar, era um falatório extraordinário, e pronto! Não aplicava disciplina e não havia conseqüências para minhas ações - só gritaria.
Uma outra vez, quase tive uma overdose com barbitúricos na escola. Fiquei com náuseas, desorientado, sem nenhuma cor no rosto e comecei a tremer. Fui levado à enfermeira da escola e logo em seguida visitado pelo diretor. Uma olhada em minhas pupilas já disse tudo (elas estavam do tamanho de uma pontinha de alfinete). O diretor chamou meu pai e mandou levar-me para casa. Quando ele me pegou, perguntou-me se eu havia tomado drogas. Disse-lhe que não e este foi o fim do confronto. Naquele ponto parecia que ele não queria dominar-me e esta falta de firmeza de meu pai fez nada a não ser encorajar-me a uma vida contínua de rebelião. Já que parecia que eu sempre conseguia “safar-me das bandidagens” em casa, sem conseqüências, iniciei minha vida adulta com a crença de que poderia fazer o que quisesse e livrar-me de tudo.
Devido à minha falta de disciplina fui incapaz de resistir quando as portas da tentação abriram-se para mim.
Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Tiago 1:14-15
Também, enquanto novo ainda, comecei a gastar uma grande parte do meu tempo, com minha lista de mentiras e tramas que iam sempre aumentando. Mas o engano é bem astuto. Ao organizar sua lista para enganar outros, a doença infesta seu coração e sal mente conduzindo-o a acreditar mesmo que o que você está fazendo é certo. A Bíblia diz:
...mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. 2 Tim. 3:13
Eu comecei a dizer a mim mesmo:
- Ei, não estou fazendo nada de errado mesmo. Isso faz parte da vida.
Hoje estou convencido de que o caráter cristão é formado nas crianças através da disciplina amorosa, baseada nos assuntos espirituais, ensinando-as a orarem e a lerem a Bíblia e freqüentando a Escola Dominical com regularidade. É o caráter cristão que forma a fibra forte que nos carrega durante os dias difíceis da vida. As pessoas sem caráter sempre verão as coisas mais preciosas da vida escorregarem pelos dedos.
Uma senhora, certa vez, telefonou para um programa de rádio para perguntar onde ela poderia encontrar uma companhia “para fazer o melhor empréstimo, com o qual pudesse pagar as minhas dívidas” para que ela pudesse continuar a gastar seu cartão de crédito desenfreadamente. Aquela mulher não precisava resolver o seu problema de dívida, mas sim corrigir a sua falta de disciplina nos seus hábitos consumistas. Em outras palavras, ela precisava viver com os seus rendimentos, cortando todos os gastos extras para adequar os gastos e as entradas, mesmo sendo difícil Se tudo o que ela fizesse fosse pagar os seus débitos com um empréstimo, um ano mais tarde ela teria seus empréstimos mais os doze meses de dívidas do cartão de crédito para pagar!
Eu estava na mesma situação desta rainha do cartão de crédito, só que o meu problema era moral, não financeiro. Cada vez que eu tomava uma decisão moral errada, desejava o perdão para o meu ato errado, mas o problema real era muito mais profundo e mais sério do que os erros que eu esta cometendo. Eu não tinha o caráter cristão que só pode ser desenvolvido com uma forte disciplina amorosa e com direções claras e definidas.
Minha nova vida em Cristo colocou Noline e eu mais próximos do que jamais havíamos estado antes, mas faltava em mim o caráter para desenvolver o relacionamento nos caminhos de Deus. Noline tinha permanecido sincera consigo mesma e com o Senhor durante meus anos rebeldes de drogas e fornicações e eram essas qualidades que me atraíam a ela. O fato de que ela sempre recusara avanços sexuais durante o nosso namoro não diminuíra a minha admiração por ela. De fato, isso apenas reforçou o seu valor diante de meus olhos.
Então, quando fui recrutado para o exército, nosso romance parecia aprofundar-se cada vez mais, a cada dia. Eu sabia, sem qualquer sombra de dúvida, que ela era a garota com quem eu queria a me casar e, além disso, ambos éramos cristãos agora. É claro que isso era algo muito importante. Resultado final de minha teorização, no entanto, levou-nos a muitas feridas e à perda do respeito por parte de nossas famílias e colegas durante um longo período.
Alguns podem dizer que o nosso relacionamento premarital fora inevitável. Tenho ouvido dizer que, se você gasta trezentas horas com uma pessoa do sexo oposto, ou você termina o relacionamento, ou irá torná-lo mais íntimo. Nós estávamos passando mais e mais tempo juntos e nos tornando cada vez mais íntimos.
Durante a minha vida de pecado, eu desenvolvi o meu talento em pressionar as moças para se entregarem sexualmente a mim e, quando apliquei essas qualidades para conseguir que Noline fosse para a cama comigo, antes de sair para o treinamento militar, não considerei isso uma manipulação – já que eu tinha certeza de que ela me queria tanto quanto eu a queria. O que eu não percebi foi que eu estada desagradando a Deus e colocando um precedente perigoso para a minha vida futura. Eu esta vivendo na areia, antes da tempestade.

Capítulo 4 – Nuvens de tempestade se aglomeram

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