segunda-feira, 25 de maio de 2009

O vinho natural do amor jovem


Foto: Diógenis Santos

Tão logo alcancei as ruas familiares de minha cidade natal, a primeira coisa que quis fazer foi procurar Noline Wakefield. Nos conhecíamos desde os doze anos de idade e ela era muito especial para mim.
Nunca me esquecerei das circunstâncias de nosso primeiro encontro. Em um verão, um amigo da frente de minha casa convidou-me para acampar com um grupo de amigos. Eu disse:
- Legal! Interiormente fiquei pensando porque tinha que pagar tanto para acampar. Pouco a pouco, percebi que eu havia pago por uma semana de acampamento de uma igreja Batista. (Foi bom ele não ter me dito toda a verdade, pois se soubesse a verdade eu nunca teria ido a uma atividade de igreja – principalmente tendo de pagar por ela!)
No momento em que cheguei ao acampamento, percebi que havia cometido um engano. Graças ao meu “amigo” eu estava então enfiado naquele pesadelo, com algumas pessoas esquisitas que ficavam sempre cantando e indo a uma reunião de igreja, uma após a outra. Tentei não ir aos cultos naquela semana, mas eu encontrei algo lá, fora das minhas expectativas, que valia a pena. Encontrei uma menina superinteressante e simpática. Ela era mais velha que eu, mas quando chegou a hora da despedida, ela apresentou-me sua irmã que tinha a minha idade. Pensei comigo mesmo: Afinal de contas, até que não foi uma semana tão ruim!
Uma semana depois, fiz uma visita a minha amiga e sua família. A sua irmã era legal – embora ela me perseguisse pela sala de jantar com pincéis mágicos. Ela parecia um pouco imatura para doze anos, mas era muito divertida. Eu achei Noline Wakefield bonita e pus em minha cabeça que gostaria de vê-la novamente. O sentimento foi mútuo. De fato, após aquele primeiro encontro, Noline e eu nos tornamos namoradinhos de infância.
O tempo que passamos juntos nos anos seguintes foram como algo tirado de um conto de fadas. Fazíamos as coisas juntos, como uma equipe, tanto a limpeza de uma casa de coelhos quanto algum trabalho de verão. O único obstáculo para o nosso romance infantil era que os pais de Noline não o aprovavam por eu não ser um cristão; mas não deixamos isto nos atrapalhar. Logo no começo, sentimos que éramos destinados um para o outro – com ou sem a permissão dos pais dela. Nós tínhamos muito do vinho natural entre nós e estávamos intoxicados de amor um pelo outro. O livro de Cantares de Salomão parecia ter sido escrito especialmente para nós:
Arrebataste-me o coração, minha irmã, noiva minha; arrebataste-me o coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola do teu colar. Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha! Quanto melhor é o teu amor do que vinha, e o aroma dos teus ungüentos do que toda sorte de especiarias! Encontraram-me os guardas, que rondavam pela cidade. Então lhes perguntei: Vistes o amado da minha alma? Mal os deixei, encontrei logo o amado da minha alma; agarrei-me a ele e não o deixei ir embora, até que o fiz entrar em casa de minha mãe, e na recamara daquela que me concebeu. Cantares de Salomão 4:9-10, 3:3-4
Ao olharmos para trás, para aqueles dias, sabemos – sem sombra de dúvida – que a profunda amizade que desenvolvemos logo cedo foi a única coisa que nos segurou juntos mais tarde durante a nossa vida e capacitou-nos a sobreviver às tempestades que nos sobrevieram.
Apesar do meu amor por Noline, meus anos de adolescência não foram nada puros. Bem cedo, percebi que os meninos que mais se divertiam eram os arruaceiros e decidi andar na companhia deles, ao invés de concentrar-me nos estudos. Assim, desde bem novo, associei-me à multidão errada. A fornicação era desenfreada entre estes amigos. Eles sabiam quem era “fácil”, e já que eu tinha uma falta de disciplina séria em minha vida, não tinha forças para resistir a tal tentação aberta e disponível. Apesar dos fortes sentimentos que tinha por Noline, que era o meu oposto, envolvi-me com a imoralidade muito cedo.
Com uma formação cristã forte, Noline tinha entregado o seu coração ao Senhor com cinco anos e tinha crescido em uma casa com hábitos cristãos, onde a Bíblia era o padrão do certo e do errado. Suas motivações e o seu modo de vida eram virtuosos e puros. Ela tinha recebido uma disciplina amorosa em sal infância, algo que não havia em meu lar. Dizia firmemente NÃO às áreas de compromisso pessoal e, embora me irritasse, aquilo fazia com que eu a respeitasse mais. Infelizmente, eu não tive a determinação par manter-me puro para ela e saciava meus desejos com outras moças, de vez em quando.
Noline era completamente diferente daquelas outras meninas e eu sabia em meu coração que ela era a garota com quem queria me casar. Mais do que qualquer coisa em minha vida, eu queria ter esta virgem pura como minha esposa para sempre. Aos quinze nãos, nos considerando maduros o suficiente, perguntamos à mãe de Noline se podíamos nos casar. Aquilo foi um grave erro.
Sua mãe nos proibiu de vermo-nos e preveniu-a para evitar-me a qualquer custo. Cada vez que sua família passava de carro em frente de nossa casa, ela dizia:
- Noline, olhe bem aqueles meninos!
Noline obedecia, olhando “cuidadosamente” para mim pois assim ela podia acenar e mandar-me um beijo secreto. Nós nos amávamos e sonhávamos continuamente com nosso futuro juntos.
Continuamos a namorar durante o segundo grau, mesmo quando eu me encontrava com outras meninas, escondido. Noline era boa para mim. Ela me amava pelo o que eu era e não pelo o que eu fingia ser na frente de minhas parceiras. Quando eu queria ser apreciado, visitava Noline. Quando queria festejar e bagunçar, buscava a companhia das outras amigas.
Antes de eu fazer aquela viagem fatal para a África do Sul, eu tinha pedido para Noline ir junto. Ela recusou, desejando terminar o seu curso. Isto, mais o fato de eu não ter escrito a ela da África do Sul, levou a um esfriamento total de nosso relacionamento e ambos começamos a namorar outras pessoas.
Mesmo assim, Noline era a primeira pessoa que eu desejava ver quando desci do trem. Logo descobri que ela estava numa Universidade e tinha o seu próprio carro; e, quando a vi, ela esta tão linda como sempre. Foi difícil entender a sua reação quando me viu novamente, logo de cara. Primeiro, houve um leve choque em sua expressão facial, pois a minha aparência era mesmo chocante. Eu tinha mudado completamente e já não era mais o mesmo “menino da rua debaixo” com quem ela tinha crescido.
Houve um certo embaraço em nosso encontro porque éramos de mundos diferentes no pensamento e na vida, mas, apesar de minha aparência chocante e do embaraço do momento, eu podia sentir que Noline estava feliz em me ver. Se em algum momento eu duvidara, naquele dia eu tive a certeza de que eu realmente a amava e queria viver com ela o resto de minha vida.

Salvo!

No final da semana seguinte, Nolie e sua irmã tentaram levar-me à igreja.
-Não, não vou à igreja, respondi.
- Eu não preciso de igreja. Eu só preciso de um cigarro de maconha.
Apesar de minha falta de cooperação, Noline sentava-se quieta enquanto sua irmã recém-casada e seu cunhado testemunhavam sobre o amor de Jesus Cristo pelos pecadores.
Quando fiquei sabendo que Noline planejava visitar sua irmã, que morava a uns 160 quilômetros de distância, eu comecei a planejar ir junto com ela.
- Quer uma companhia? Perguntei.
- É claro, Noline respondeu.
E foi assim que aterrissei naquele sofá para ouvir e aturar aquele sermão particular. Aquela simples visita havia se transformado em uma “Guerra Santa” entre os cristãos e o infiel. Finalmente, bati o pé e disse que não iria ao culto e eles desistiram.
Ufa, do culto da manhã estou livre, pensei vitorioso. Sua irmã e o cunhado foram à igreja e Noline e eu finalmente tivemos algum tempo juntos para recordarmos os velhos tempos e falarmos sobre nossos amigos.
Quando os outros voltaram da igreja, a Guerra Santa recomeçou.
- Por favor, você vai ao culto da noite? Por favor? Perguntavam-me novamente.
Gente persistente! Pensei.
- Ta bom! Finalmente aceite, só para livrar-me deles. Embora tivesse sido batizado quando bebê, crescera sem igreja. Eu fora à igreja umas poucas vezes em minha vida e até que não tinha achado tão mal, por isso concordei em ir. Ninguém me preveniu de que eu teria que passar duas horas num mesmo recinto com um grupo de crentes fanáticos, vibrantes e com um pregador da Bíblia, que batia palmas.
Sentei-me no fundo achando que chamava a atenção e sentindo-me totalmente como um peixe fora d’água. Eu era o único naquele lugar usando jeans surrados, camiseta e chinelos. Meu cabelo comprido, oleoso, as cicatrizes e o gesso no braço confirmavam que eu não combinava com aquela multidão.
Durante o sermão, o pastor não tirou os olhos de mim e isto me deixava bem desconfortável. Parecia que ele estava dirigindo to o seu sermão para mim. De vez em quando, eu virava minha cabeça em direção à janela por uns momentos, mas cada vez que olhava de volta, ele ainda estava me encarando. Senti-me estranhamente atraído por aquilo que o homem esta dizendo, mas tinha certeza de que poderia ouvir melhor se ele parasse com aquela história de me encarar.
No final do sermão, o pregador convidou aqueles que queriam “acertar-se com Deus” para irem à frente. Subitamente, fiquei em pé e comecei a caminhar para a frente, pensando comigo mesmo o tempo todo: O que eu estou fazendo? Neil, você está louco! Uma voz gritava dentro de mim:
- Você não vai ajoelhar-se e orar como um bobo, vai? Minha mente me condenava, mas no momento em que me ajoelhei, derramei o meu coração a Jesus de Nazaré. Naquela noite de janeiro de 1972, recebi Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador. As algemas do pecado soltaram-se e tornei-me uma nova criatura n’Ele. Nasci de novo, fui batizado e libertei-me das drogas logo que me arrependi e confessei. Fiquei cheio do Espírito Santo e senti o poder de uma nova vida agitando em mim. Meus pecados foram lavados e eu tinha uma vida nova no Senhor. Um rebelde tinha sido salvo.


Capítulo 3 – Vivendo na areia, antes da tempestade

Um comentário:

  1. Que maravilha Ginho. Parece a minha história.
    Gostaria de em breve sugerir também leituras que serão de grande edificação para o Relacionamento Conjugal.
    Parabéns pelo blog e que Deus use este instrumento para o louvor, honra e glória do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

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