sexta-feira, 29 de maio de 2009

Desapontamento


Foto: Diógenis Santos

Às vezes eu brinco sobre o quanto o seminário arruinou o nosso casamento, mas há mais verdade do que humor nessa colocação. Embora o seminário fosse um lugar para desenvolvermos uma grande visão e o chamado de Deus, foi também o lugar onde sementes sérias do descontentamento foram plantadas profundamente em minha alma. Eu via meus instrutores como grandes exemplos a serem seguidos. Os homens eram habilitados para ensinar e eram poderosos pregadores. Alguns deles tiveram experiências com tremendos reavivamentos em seus ministérios, em tempos e lugares diferentes. Eles eram todos cheios de sabedoria e conhecimento. Eu moldei-me àqueles homens de forma apaixonada, aprendendo a falar, a agir e até mesmo a andar como eles.
Mas Noline simplesmente se recusava a igualar-se. Todas as esposas dos pastores que haviam influenciado nossas vidas tocavam piano, lideravam encontros de mulheres e dirigiam o Departamento da Escola Dominical, menos Noline. Ela apenas não tocava piano como também não tinha o desejo. Eu tinha certeza de que ela estava enganada e eu mesmo comecei a procurar aulas de piano para ela, mas o resultado não foi agradável. Após um breve e infeliz período de submissão forçada por parte dela, ambos concordamos que seria interessante se todos abandonássemos tal idéia.
Sem aulas de piano, parti para o “controle de prejuízos” – ensinar Noline as técnicas de como liderar encontros de senhoras. Isso também não funcionou já que Noline, por natureza, é introvertida. Ela não se sentia tranqüila dirigindo encontros de senhoras e, no final, recusou tentar. Em minha mente, ela estava em situação de grande desvantagem.
Sem saber, eu tinha descoberto uma das maiores forças de Noline – a teimosia. É uma qualidade poderosa quando usada para as coisas certas. Noline não abre mão quando se trata da justiça, da leitura da Bíblia, dízimo, oração e outras questões espirituais. No entanto, quando é para fazer algo que ela não quer, pode esquecer! Nenhum poder terreno (ou marido ansioso) consegue dobrá-la. Isso me irritava tanto que, ao invés de perceber que eu havia descoberto um ponto forte – eu não apreciava sua teimosia de jeito nenhum, achava que isso era um obstáculo para o nosso ministério.
Encontrei a mesma teimosia quando tentei “ajudá-la” a cuidar do Departamento da Escola Dominical como qualquer outra mulher “normal” de pastor. Finalmente, tive de admitir que não havia razão para Noline ser a responsável quando havia tantas outras mulheres extrovertidas para fazê-lo.
Essa falta de vontade por parte de Noline, de assumir o papel tradicional da mulher do pastor, tornou-se um dos aspectos mais polêmicos de nosso casamento que me tirava a atenção. Por que ela – sabe-se lá por que razão – recusara-se a se encaixar no conceito que eu idealizava para a mulher de pastor? E, se ela recusava ser o que ela deveria ser, como eu poderia realizar meus próprios sonhos de sucesso?
A questão havia chegado ao fim quando nos formamos, pois Noline tinha dado à luz a mais duas crianças. Para a minha total frustração, naquele tempo ela considerava as crianças seu primeiro ministério, preferindo-as acima de todos os deveres tradicionais da mulher de pastor: deveres que eu considerava muito importantes. O que eu poderia fazer? Finalmente, percebi que não tinha escolha nessa questão. Eu teria que acostumar-me a isso.
Como nós não concordávamos com as questões de ministério e pelo fato do ministério ter se tornado a minha vida, a “dupla dinâmica” começou a desentender-se mais e mais quando assumimos o pastorado. Se conseguíssemos ver a verdade, éramos ambos novos e inexperientes demais para pastorearmos; mas, em minha mente, eu estava perseverando e me esforçando para ser um “poderoso homem de Deus”, enquanto Noline não estava fazendo nada para ajudar-me a ser o perfeito pasto. Enquanto ela devotava a sua vida para cuidar das crianças, eu julgava e desprezava seus esforços porque, através de minhas perspectivas, ela tinha uma falta de compromisso para com o dever do ministério. Então, comecei a centralizar nela a minha frustração e crítica e a racionalizar minhas próprias inabilidades e defeitos. Isso pode soar familiar para outros homens no ministério.
Esse padrão de culpar outros seguiu-me durante o meu ministério pastoral. Quando eu não culpava Noline, culpava outras pessoas de nossa congregação. O único indivíduo que eu não abençoava com o dom da crítica era eu mesmo. Eu, simplesmente, não podia ver o quanto eu era a causa do problema!

Uma nova aproximação

Uma vez que o nosso relacionamento já não era tão feliz e amoroso como esperávamos que fosse, Noline e eu começamos a estudar tópicos sobre casamento, relacionamentos e personalidades. Queríamos saber o que havia de errado conosco. Cada um de nós fez uma lista e através das respostas tentamos descobrir nossas personalidades e “perfis da alma”, nossos dons espirituais e temperamentos. O processo ajudou-nos um pouco; mas, na maior parte do tempo, eu ficava mais irritado com Noline por ser tão introvertida e não me ajudar no meu ministério.
A ironia nisso tudo era que eu ainda amava Noline e me sentia muito atraído por sua personalidade e temperamento; mas, quando se tratava do ministério, sentia que precisava de alguém que fosse completamente o oposto dela. Eu queria um outro eu.
A raiz de nosso problema, tenho certeza, era realmente o meu orgulho. Eu queria que Nolime me fizesse parecer bom. Eu esperava que ela complementasse o meu trabalho no ministério e, quando ela não o fazia, (ou não podia) eu me frustrava. Comecei a alimentar pensamentos secretos de admiração por outras mulheres que tinham talentos em áreas nas quais achava que Noline deveria ter. “Se Noline fosse assim, se ela pelo menos pudesse cantar e tocar como a Jane ou liderar a Escola Dominical como a Helena, poderíamos fazer grandes coisas!”
O fato é que Noline não era outra pessoa. Ela era Noline. E quanto mais eu tentava pressioná-la para uma ou outra função, mais ela batia os pés. Eu sentia que havia sido pego numa armadilha., mas a armadilha era eu mesmo. Eu estava buscando a minha própria ambição egoísta, não a saúde do Reino de Deus. Eu vi isso claramente, tempos mais tarde, já mais maduros e depois de termos permitido que o Senhor fizesse um trabalho profundo e duradouro em nossas vidas. Estou convencido de que se eu tivesse sido discipulado como um broto compassivo, teria crescido como uma árvore reta e direita. Ao contrário, eu carregava as cicatrizes, as torções os nós de uma árvore que já conhecera tempos difíceis – sem mencionar o que causei às árvores ao meu redor.

Dúvidas crescentes

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